terça-feira, 24 de setembro de 2013

Fim

Quando teve certeza que estava descarregada.
Quando ousou contar a verdade.
Quando acordou e resolveu usar a corda.
Quando acertou sozinho a mega-sena acumulada.
Quando decidiu comprar um carro sem air bags.
Quando decidiu escrever o próximo livro.
Quando depois de meses, ela lhe cumprimentou sem abraço.
Quando procurou a última dose, e encontrou.
Quando pagou a última prestação do plano funerário.
Quando descobriu como ganhar dinheiro fácil.
Quando teve certeza que o certo era o verde.
Quando aceitaram ajuda do FMI.
Quando achou que sempre poderia recomeçar.
Quando acabou o espaço em branco na folha.

Alexandre Revoredo/2013

Bem dito.

Bendito e maldito, o poeta.
É nisso que acredito,
e por isso a poesia conquista.
Mas deve o artista sê-lo sem saber
e em sua inocência, tudo conhecer.
Sua verdade é o mundo que há de ver.
Espalhar no espaço o que há de bonito
esse é seu ofício bendito.
Só não deve o poeta
amaldiçoar sua arte.
Fazer dela somente artifício
não deve ser sua parte
mas a sua maldição.
Deveria contar a sorte?
Cantar a morte?
Deveria ou não?
Que faça e que mostre
o lado escuro das coisas
o sul e o norte
a força do fraco
a fraqueza do forte.
Que cometa o delito
e faça valer seu dever maldito.
Pois há muitas verdades na arte,
ou mentiria a arte
artificialmente.
Mente-arte-ficcional.
Artimanha fantástica da vida real.
Correnteza direta para um mundo espiral.

A arte não mente
só dissolve a gente
qual água no sal.