quarta-feira, 3 de julho de 2013

Nadando no terraço: relatos de uma primeira vez.


Lembrei da minha primeira vez, aliás, nunca esqueci, sequer uma vez. Romântico e propenso à fantasias ousadas, tive a sorte de ter sido com a primeira namorada. Nathália, ou Ná, como me foi apresentada. Eu a chamava de Flor. Apelidos do amor. Eram sete da noite e toda a família (pai, mãe, os irmãos e o cachorro) assistia a novela. Dessas dirigidas pelo Jorge Fernando, ou o Falabella. Estávamos no terraço. As Luzes apagadas. O ventilador amenizando o mormaço. A família concentrada na TV. E a gente se distraindo, não queríamos nem saber. Estávamos de pé. Ela, de saia curtíssima, fazendo jus aos seus perfeitos 1,60 m. A cidade quente, tanto quanto a gente. Ela encostada, acuada na parede, beijos apertados para abafar os gemidos descuidados. Nos movimentávamos numa harmônica dança nervosa. Sexo em verso e prosa. Como se tivéssemos ensaiado todos os passos. Preenchíamos o espaço. De frente, de costas, peito, borboleta. Nado sincronizado no terraço de casa. Amor que nadava. Discretos, calados, acima de qualquer suspeita. Na sala, a família noveleira, rindo. E nós enrolados nos nós do novelo do amor. Jamais esqueci o frisson e o torpor. O terceiro ato foi na cozinha, jantamos felizes e desconfiados, nos bolinando por baixo da mesa. Enquanto todos comiam, ela chupava laranjas, me olhando com um cinismo sacana. Ah! Saudosos anos. E nem sequer tínhamos planos. O namoro girou o ciclo natural. Paixão, ardor, amor, ciúmes, brigas, dor. Começamos no primeiro dia que nos vimos e terminamos no último, saímos. Nada de amor crescente, minguante. Mas um amor daqueles, avassalador, conexo, tanto quanto nosso sexo. Amor de flor-da-idade sempre deixa um marco de saudade. 


(esta é uma obra de ficção, ou fricção, qualquer semelhança com fatos ou nomes terá sido mera coincidência)