terça-feira, 23 de outubro de 2012

Eu sempre achei bonito quem gosta de ler. Aquela pose de intelectual, olhando por baixo dos óculos de grau. Tinha uma inveja danada, achava que pessoas assim sabiam de tudo na vida, e eram felizes, enganando os outros, fazendo de conta que não sabiam de nada. Felizes sim! E como explicar a cara satisfeita daquela mulher que vinha todo dia no ônibus lendo?! Toda semana um livro diferente. Parecia que comia livro. E a indiferença daquele senhor de boina que nem via o que tava acontecendo no ônibus quando tava lendo?! Parecia que tava noutro mundo. Teve uma vez que dois moleques assaltaram o cobrador e o senhor nem percebeu, nem viu. Fiquei bestinha. Pensei que se era fácil fugir assim do mundo, desse aperreio, dessa desesperança, eu ia aprender a ler. Achava mesmo que tava perdendo alguma coisa. Num sabia o que. Queria descobrir. Nem pai, nem mãe eram letrados, nunca estudaram. As coisas lá no sítio não eram fáceis. Deu trabalho pra eu estudar, mas eles faziam questão, diziam que eu era inteligente. Ainda bem que arrumei esse emprego na escola, gosto de cozinhar, no meio do mês acaba a merenda das crianças mesmo, me sobra tempo pra ler. Até que já tô lendo direitinho, embora num consiga entender umas palavras. Aquelas que a gente não usava no sítio. Aquele senhor me disse que se eu pegasse um dicionário e procurasse, além de entender melhor, eu até aprenderia mais. Segui o conselho, no começo me dava uma desimpaciência, mas depois acostumei. Ler é bom demais, e apesar de meu marido me condenar quase sempre, nem ligo, tô é me divertindo, e esquecendo meus problemas. Já notou como eu tô falando mais bonito?! Tá todo mundo dizendo.


Alexandre Revoredo

*Texto a revisar

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