terça-feira, 30 de novembro de 2010

O boêmio-mor


Existem inúmeras coisas para se falar do Baiano, fatalmente a maioria delas apontará para situações hilárias, um certo desleixo e uma paixão exacerbada pela vida. Lembro de uma vez quando houve uma briga num bar e um cara queria bater na namorada, o baiano viu, interveio, e quem acabou preso foi ele mesmo, enquanto o cara que já tinha batido na namorada e xingado a polícia foi para casa livre, leve e solto. Lógico, não era intenção do baiano, ir em cana, apesar de ter entoado o grande hino reacionário estudantil “pra não dizer que não falei das flores”, bateu de frente com a polícia local, e pegou o sargento num dia daqueles de “ovo virado”. A galera, solidária, foi junto com ele para a delegacia, só não foram na viatura por que eram em número de 12. Aquela noite foi memorável, e só terminou na manhã seguinte quando todos comemoravam a soltura do baiano, regados a cerveja, café e cuscuz com leite, no Brás.

O baiano não é digamos assim, apegado a valores materiais, tradicional e sempre pontual (?), não vê motivos para possuir um relógio ou celular por mais de uma semana. Pra que se prender ao tempo? Pra que se permitir ser achado pelas pessoas mais inconvenientes nas horas mais inconvenientes? Lembro que eu mesmo, aficionado por relógios que sou, comprei um da marca “puma” pela bagatela de 10,00 reais e uma cerveja. Isso mesmo, o presente é uma dádiva e o que o baiano queria naquela hora era tomar aquela gelada e continuar a curtir a noite.

É assim desapegado das coisas materiais, as dele. As dos outros, sem querer acabavam por ser suas. Ajudou a fundar (afundar?) um bar, que era conhecido por “Bar do baiano” mesmo não sendo ele o proprietário. E por ser mesmo o “bar do baiano” é que a maloqueirada freqüentava assiduamente. Era uma espécie de Barman-Porteiro-administrador-cliente e DJ. Quase nunca deixava a música tocar por inteiro, o que causava irritação aos que curtiam o som, que era de primeira linha. O baiano é novo, e introduziu os Novos Baianos na discoteca cotidiana dos amigos, o baiano é do bem, e reafirmou a importância de Jorge Ben Jor na discoteca cotidiana dos amigos.

O baiano é do chá, e só ele mesmo para explicar como se faz suco de laranja com o ferro de passar roupa. Foi num dia, qualquer, tinha tomado um chá de não-sei-o-quê e desesperado com o efeito da coisa, num pequeno lapso da loucura lembrou que alguém tinha falado que suco de laranja cortava o efeito, e então, nu, com o ferro de passar na mão, pediu a mãe uma laranja pra fazer o tal suco.

Formado em administração para poder administrar suas rendas, ainda não consegue.

Todo mundo é convidado para a casa do baiano, mesmo quando não é a casa dele. Sociável, já dividiu apartamento com grandes figuras do folclore universal. A casa do baiano foi, é e será sempre uma festa, e a maior delas foi no dia de sua despedida, quando voltou a sua cidade natal, tivemos a infelicidade de vê-lo “mais uma vez” (sim, houveram outras) a dançar nu ao som de “I Will survive” (na versão do Cake, pelo menos).

O baiano é uma figura, daquelas que vez ou outra alguém comenta a sua falta, suas trapalhadas e principalmente suas presepadas. Artista, muito mais do que músico, está sempre disposto a tocar seu repertório de 6 músicas, muito bem escolhidas vale salientar, dono de uma voz inconfundível, de uma emoção inexprimível e de uma capacidade de sair do compasso, inexplicável.

Nos verões, está sempre nos convidando para passar uns dias na sua pousada em Salvador, “mi casa es su casa” é sempre o mote usado. Estou só esperando a primeira oportunidade pra curtir Salvador com o melhor guia turístico do estado, o baiano mais pernambucano que conheci, o boêmio-mor, o homem que não estava lá, o baiano Wilson.

Alexandre Revoredo 30/11/2010

5 comentários:

  1. Muy grato!!!
    querido amigo,

    Aquele abraço!!!

    ResponderExcluir
  2. olha o baiano aí!!!!! é ele mesmo!!! rsrsrsrsrs, muito bom Jaqueta!!!!! muito bom!

    ResponderExcluir
  3. obrigada jaqueta, lembrei de coisas como num filme em cores vivas, com sons e cheiro ateh! :) Ehehehe baiano, as vezes me vejo um pouco nele, kkkkk

    ResponderExcluir