segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Meio fim

Meu fim foi logo quando criança, com minha mãe solteira, fugindo com o padastro. Não restou nem lembrança. Meu fim foi ter que ficar com a minha avó Santina, nesse eterno agosto, nessa chuva fina. Meu fim foi ser mal-criada pelo desgosto dessa avó, vivia maldizendo o ex-marido. Chegava a dar dó. Meu fim foi aprender a ser malandra e esperta, senão nem comer eu comia naquela casa. Vivia aberta. Meu fim foi ter sempre que usar minha pouca roupa nessa casa tão cheia de gente. Parecia criança carente. Meu fim foi não ter cabeça oca, sabia pedir com o dedo na boca. Meu fim foi nascer bonita e crescer gostosa. Mercadoria rara, joia luxuosa. Meu fim foi assumir a boate quando minha vó morreu. Sobrou para mim o que já era meu. Meu fim foi saber fazer o serviço certo, e deixar os homens apaixonados, principalmente os casados. Meu fim foi inventar de vender outras coisas além de bebida, só pra agradar clientela com as coisas boas da vida. Meu fim foi ter confiado naquela bicha invejosa do Arnold. E ela me caguetou, aí a vida desandou. Meu fim vai ser agora nesse presídio, pagando cada besteira que fiz. Meu fim também vai ser a desgraça de muita gente que só comigo era feliz. Sei que vivi demais, até a Deus agradeço. Mas o que eu sempre quis, foi um outro começo.  

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