quarta-feira, 12 de junho de 2013

Amados!



Marcaram tudo para o grande dia. Era 12 de junho. Jantar regado à vinho, velas, comida bonita, e gostosa, num restaurante daqueles chiques que você tem que marcar hora. Dali, iriam para o motel, suíte presidencial. Presidente e primeira dama. Tudo pra dar certo. É certo que junho costuma chover, mas naquele dia São Pedro resolveu testar o amor dos casais. Um temporal foi seu presente. O primeiro resultado: engarrafamento de 1 hora, a caminho do restaurante. Ela, toda maquiada, reclamava dos vidros fechados - esse calor vai borrar minha maquiagem, você consertou o ar-condicionado? Não, ele não havia consertado, há duas semanas que ele prometia fazer isso. Para acalmá-la disse que ela teria tempo pra se reorganizar no banheiro. No restaurante, até a fila pra usar o espelho do banheiro estava grande. Enquanto ele tentava falar com o garçom para pedir uma entrada, ela derrubava o batom na privada, tentando se maquiar com o pequeno espelho do batom. Ele pede um vinho, e depois de 30 minutos o garçom volta pra dizer que aquele vinho havia acabado. Na mesa, a namorada reclama que deveriam ter escolhido outro restaurante. - Mas todos estão lotados, amor. - Você por acaso foi em todos? perguntou num tom mais nervoso que o normal. Temendo perder a paciência pensou em pedir um whisky, o efeito era mais rápido e mais forte. Você sabe que eu não tomo essa porcaria, retrucou ela. Teve uma ideia: no motel tem comida, quem sabe lá não relaxamos?! Pediram a conta, não haviam consumido nada. Saíram do restaurante, mais chuva. Deu com o pé num buraco disfarçado pela água. Molhou a calça até a altura do joelho, por pouco não quebra a perna. A caminho do motel, outro engarrafamento. - Você deveria ter consertado o ar-condicionado! O tom daquela observação incidia diretamente na infalibilidade de sua ereção. Foi quando ele se tocou da gravidade da situação. Ligou o rádio. Amado batista cantava: ”...secretária, que trabalha o dia inteiro comigo”. Lembrou da sua secretária. Moça bonita, educada e solícita. A namorada intercedeu no pensamento. Eu odeio Amado Batista!!! Sempre que ele ouvia Amado, lembrava da mãe. Puta-que-o-pariu! Minha mãe não! Lembrar da mãe incidiria diretamente na sua ereção. Trocou de estação. A essa altura, já estavam na porta do motel. Fila de carros magistral. Entre um importado e um popular, aguardavam a vez. Estavam ainda mais ansiosos por seu lugar ao sol, ou à cama. O homem no interfone previu ainda 40 minutos de espera. A culpa é sua! Gritou ela, desesperada. Você pode calar a boca?! Gritou ele em tom ameaçador. Mas era dia dos namorados, como ele pôde fazer isso?! Paf! Recebeu um tapa, merecido. Parou, e tomado pela cólera da humilhação, pegou-a pelos cabelos e...deu um beijo, sôfrego, molhado. Rasgaram as roupas ali mesmo no carro. A chuva lá fora e o calor interno só contribuíram para os vidros ficarem cada vez mais embaçados, o que contribuía ainda mais para sua privacidade e consequentemente para suas peripécias. Fizeram um sexo selvagem, juraram amor eterno, pediram desculpas um ao outro. Deu trabalho para saírem dali. Tiveram que afastar os carros para poder manobrar o deles. Voltaram pra casa. Rasgados, suados. No jardim da casa, tomaram banho de chuva. No banheiro, mais amor. Agora aquecidos na cama, tomam um vinho que estava aberto na geladeira, comem pipoca assistindo um antigo filme do Woody Allen. Dormem de conchinha o sono dos amantes. Não gastaram um tostão sequer. O amor é lindo!

Alexandre Revoredo.
12/06/13.

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